Saudação aos Presentes. Autoridades. Convidados. Empregados da Ceres.
Minhas Senhoras e Meus Senhores.
Inicio com os agradecimentos ao então Presidente da Embrapa, Clayton Campanhola que em 2003, num momento histórico da Nação brasileira, inicio de um governo popular, presidido por um operário, acreditou que eu seria capaz de exercer a função de Diretor Superintendente da Ceres – Fundação de Seguridade Social. Similar agradecimento externo ao companheiro Quirino Rodrigues pelo esforço para que eu exercesse essa honrosa função. Agradeço também ao Presidente da Embrapa Silvio Crestana pela recondução de mais um mandato, e ao atual Presidente Pedro Arraes por igual apoio e generosidade em apoiar-me e concordar com a prorrogação desse mandato e o encerramento do meu ciclo profissional na Embrapa. Reitero um especial agradecimento ao então Ministro da Agricultura Reinhold Stephanes que na sua discreta e formal maneira germânica de ser apoiou a minha recondução e me defendeu em críticos momentos da gestão. Agradeço também aos Presidentes dos patrocinadores Emater-Mg, Epamig, Epagri e Cidasc, que tem os seus planos de benefícios dos seus empregados administrados pela Ceres, que de forma espontânea formalizaram os seus apoios em ambos os meus mandatos. Destaco um especial agradecimento ao ex-presidente do Sinpaf, o companheiro Valter Endres pelo apoio e companheirismo.
Agradeço ainda, sem ordem de qualquer classificação, aos companheiros de diretoria colegiada, Dante Scolari, Luciano Fernandes, Rafael Jabuonski e Raimundo Araújo. Cumpre agradecer e ressaltar o desempenho dos Conselhos Deliberativo e Fiscal, que com a Diretoria Executiva compõem os órgãos colegiados responsáveis pela gestão dessa Fundação. Cabe afirmar como princípio da verdade, que não construímos uma administração de forma solitária e individual, mas na dialética que compõe a modelagem dos fundos de pensão. Não poderia ter cumprido este mandato, sem a determinação, compromisso, e competência dos empregados da Ceres. Eles são exemplos de trabalho e dedicação. Tenho uma profunda gratidão ao profissionalismo e amizade construída nessa longa convivência. Embora jamais perseguisse a simpatia nos meus atos de gestão, ao contrário busquei sempre a justiça e a ética. Não tive como estratégia dividir e mentir para governar. Fui mudando sem mudar de lado. A homenagem que me fizeram gravadas em vídeos e no livro “As Conquistas e o Legado de Um Vencedor: Ceres 2003 a 2011”, ficará tatuada com verniz dourado no interior do meu peito e no cabeçalho do meu Curriculum Vitae. O exemplo e o reconhecimento são as ferramentas do labor do gestor. Como disse Antonie de Sainte-Exupéry em “O Pequeno Príncipe”, “o essencial é invisível aos olhos”. Do mesmo modo, agradeço aos parceiros do mercado e das suas organizações, como a Apimec, o Ibef e a Ancep; das representações dos fundos de pensão, a exemplo da Anapar e, em particular a Abrapp, Icss e Sindapp, nos quais tive a distinção de ser um dos seus dirigentes, pela acolhida, generosidade e cooperação, dentre outros, destaco o título de Dirigente do Ano 2006 da Região Centro-Norte da Abrapp.
Faço um pessoal e particular agradecimento, guardado em sigilo até este momento, ao amigo José de Souza Teixeira, um homem experimentado e gestor de reconhecida competência. Um cidadão com capacidade de compreender as diferenças, sem preconceitos e ardis rotulações. A tolerância é uma característica dos homens sábios. A ele devo em específica arena, as ações sensíveis que promoveram a minha recondução no segundo mandato de Diretor Superintendente desta Fundação. Uma causa tida como perdida até o instante em que esteve do meu lado. Nasceu na beira do Rio Poty em Teresina, embora curtido pela brancura dos lençóis maranhenses. Teixeira professa que “a única coisa que se pode proteger é a alma, pois é a mais sensível e a única que tem importância”.
Meus Senhores e Minhas Senhoras após oito anos e quatro meses, como Diretor Superintendente dessa Fundação responsável estatutariamente, pela coordenação, supervisão e avaliação das suas atividades, esse foi o período mais longo e ininterrupto das tarefas que desempenhei nos trinta e cinco anos de vida profissional. Concluo essa missão feliz e contente, embora mais preocupado do que quando aqui cheguei. De um lado pela continuidade das conquistas conseguidas; do outro pela complexidade das atividades, e aflição em não eliminar os riscos encarnados na nossa formação patrimonialista, as quais podem interferir na gestão do patrimônio bilionário da Ceres. Não existem equações capazes de garantir o caráter, a ética, e a moral; e ao mesmo tempo eliminar o conflito de interesses e o tráfico de influências na lide dos recursos dos planos de benefícios dos trabalhares e familiares, que sonham com uma aposentadoria justa e merecida. Não busquei ser um simpático, partidário e populista dirigente, mas sim, um justo e operoso diretor. As minhas preferências ideológicas e partidárias foram subordinadas aos valores éticos e morais como estratégias de gestão. Eu sou fruto do da minha vida material. Espero ter vencido as batalhas que aqui travei e ter contrariado o acadêmico Antônio Callado, que disse: “sempre lutei do lado certo e perdi todas as batalhas”. As pessoas às vezes, são esquecidas, mas as suas obras atravessam o tempo.
Não irei me retirar, irei me renovar. Mudo apenas de participante e dirigente para assistido e contundente fiscal. As minhas escolhas têm firmes raízes éticas e ideológicas. Envergonha-me conviver com a corrupção, a miséria, e as opções mesquinhas daqueles que se apequenam perante a ganância e as vantagens fáceis, ferindo a verdade, a camaradagem e o companheirismo. Grandeza não é contingência de circunstâncias, mas de princípios e disciplina. A longevidade das organizações é lastreada pelos valores dos seus líderes que são pessoas e não máquinas inertes, sem sentimentos, emoções e paixões. Como disse Nelson Mandela, estadista ímpar do Século XX, no livro “Conversas que Tive Comigo”: “Na vida real não lidamos com deuses, mas com humanos tão comuns quanto nós mesmos. São homens e mulheres cheios de contradições, que são estáveis e inconstantes, fortes e fracos, famosos e infames, pessoas em cujas veias a mesquinharia resiste bravamente a fortes pesticidas”.
Não irei cansá-los com realizações dos mandatos de 2003 a 2011. Pois a história como ciência fará o registro, independente dos meus desejos. A interpretação poderá sofrer os vieses de quem os fará: se pelos vencedores ou pelos vencidos. As realizações estão registradas nas atas, jornais, relatórios, palestras, entrevistas, artigos, prêmios, memórias, livros, teses, discursos, dentre outros. Mas permitam-me destacar alguns modestos feitos realizados de forma colegiada: o padrão agressivo de governança corporativa que ultrapassou os limites da Ceres, para o ambiente nacional da previdência complementar fechada fundamentado na participação, honestidade, controle, competência, e transparência, a exemplo da ímpar auditoria externa e independente com escopo na ética; da limitação de mandatos da diretoria; do processo colegiado de decisão dos investimentos e dos benefícios; das ações externas e internas de comunicação dos atos de gestão, e na educação previdenciária e financeira. Acolhemos uma nova patrocinadora, a Cidasc, se foram vinte e sete anos da última adesão. Assim como, adequamos a Ceres às exigências desse novo tempo, como torná-la apta a gestão de planos de benefícios instituídos e de contribuição definida e variável. Em colegiado com os meus companheiros, ajudei a triplicar o patrimônio da Ceres de um bilhão e setenta e sete milhões de reais em setembro de 2003 para quase três bilhões e cem milhões em setembro de 2011, mesmo com o crescimento dos benefícios, de 52 (cinqüenta e dois) milhões de reais para mais de 140 (cento e quarenta) milhões de reais no mesmo período. Embora o mais valioso dos feitos, não está materializado, pois é ético e moral: jamais fui acusado de qualquer trapaça, tráfico de influência, conflitos de interesses, manipulações e armadilhas, desconfiança ou comportamento não-convencional por qualquer um dos mais de dezessete mil participantes e assistidos; dos conselheiros; dos patrocinadores; dos órgãos de fiscalização; ou de qualquer outra forma de auditoria e fiscalização, formal ou informal. As pesquisas de satisfação mostram que no percurso do mandato, partimos de 64% (sessenta e quatro por cento) e chegamos a alcançar 91% (noventa e um por cento) de satisfação com a gestão, hoje estamos com 86% de satisfação, e nenhuma desconfiança, ao contrário as dúvidas e incertezas foram anualmente eliminadas. Reitero um outro resultado difícil de mensurar: a auto-estima e o valor dos empregados da Ceres no ambiente dos fundos de pensão.
Ao aqui chegar em setembro de 2003, não encontrei uma transição, como a que realizamos com os Diretores Rafael Jabuonski, Dante Scolari, e Wenceslau Goedert. As circunstâncias exigiram habilidades para conviver com práticas advindas das teorias clássicas da revolução industrial e da burocracia dos Séculos XVIII e XIX. Diagnostiquei as causas, definir os problemas e tracei os rumos, às vezes declinando de convicções, ressentimentos, e desejos revanchistas. Os resultados comprovam o sucesso da gestão. Encontrei mais de uma dezena de terceirizados; alguns com dez anos de um precário contrato de trabalho e semi-analfabetos, condições contraditórias à civilidade e as exigências de uma entidade previdenciária patrocinada por organizações de ciência e tecnologia. Hoje esses mesmos companheiros, compõem o quadro regular de colaboradores da Ceres, são universitários e portadores de graduação de nível superior. Renovamos o quadro de servidores dessa Fundação em mais da metade. Todos por um processo meritocrático de seleção. Jamais me dobrei aos pedidos e pressões dos amigos, companheiros, familiares, apoiadores e partidários. Abomino com nojo as práticas do nepotismo, do compadrio, e do dando que se recebe, tão comuns em nossa sociedade. O custo administrativo da Ceres é o menor dentre as demais Fundações, sem a perda de qualidade dos serviços. Não deixarei ninguém sob o meu julgo ou submissão, e não cobrarei gratidões. Assim como, não deixarei nem viúvos, e nem viúvas da minha gestão. Todos estão nos seus postos por mérito provado e comprovado, e pela competência dos seus papéis. Revelo com emoção que em alguns casos, patrocinei com recursos próprios o financiamento de cursos para a formação escolar dos mais humildes. Orgulha-me ver garçom transformado em contador; zelador em universitário; estagiários e terceirizados em servidores dignos, preparados, motivados e felizes e uma plêiade de ex-colaboradores da Ceres, colocados em posições de destaque em outros fundos de pensão, muito deles selecionados também pelo valor da marca Ceres. Estou seguindo Tolstoi que disse: “escreva sobre a sua aldeia e você pode tornar-se universal”.
Não partilho da hipocrisia em negar e esconder o salário compatível com as responsabilidades da função, e condizente com a realidade nacional dos salários dos dirigentes de fundos de pensão. Como posso negar que não melhorei o meu patrimônio? Exceto se confessar a incompetência na administração das minhas próprias finanças e, portanto não estar devidamente certificado para administrar as finanças de terceiros. Aqui fiquei oito anos e quatro meses, seria o mesmo que dezesseis anos e oito meses no patrocinador. Declaro que espontaneamente registrei em atas do Comitê de Investimentos e do Conselho Deliberativo da Ceres a quebra dos meus sigilos fiscal, telefônico, renda e patrimônio para fins de direito e de boa-fé. A Gerência de Controle detém em seus arquivos as minhas anuais declarações de renda e bens, embora fosse compulsório apenas a de bens, para esses mesmos fins. Na vida, em face das minhas sólidas convicções e formação familiar, não tive tempo de ter medo, pois como diz o ditado popular “eu não sou filho de pai assustado”. Aos meus pais devo a educação exemplar, a coragem, e o respeito ao alheio, e aos princípios alienáveis da honestidade e da honradez.
Aprecio esse tempo de rupturas de velhos paradigmas e das constantes inovações. Isto significa que para se gerenciar nessa quadra social, nem sempre o modo racional de pensar e agir seja o mais apropriado. Deve-se enfrentar os desafios de forma nua e crua, com paixão, intuição, e emoção. “Quanto maior o tamanho do nosso coração, maior o tamanho das nossas realizações”. Não me considero uma unanimidade, pois ela não existe no meio social permeado de contradições e distintos interesses. Quando aqui, cheguei, investimentos socialmente responsáveis; governança corporativa; avanços na medicina, na biotecnologia e nas sociabilidades e as suas interações com as premissas atuariais; parcerias público-privadas; educação previdenciária, responsabilidade social, dentre outros, eram temas excluídos da agenda e cunhados sorrateiramente como partidários e ideológicos. O tempo se encarregou de mostrar os acertos de quem corretamente diagnosticou.
Deixo mais uma vez para registro, que nunca fiz, não mandei fazer, não apoiei e nem participei, daquilo que não tenha sido legal, ético e de boa-fé no desempenho das minhas atribuições. Jamais concordei ou defendi qualquer ação ou iniciativa contrária à transparência, a legalidade, e a ética coletiva. Reitero de forma enfática: eu não tenho compromisso com o erro. Quem o fez que seja por seus atos responsáveis. Assumirei as conseqüências pelo que fiz e não pelo que não fiz. Os fundamentos da obediência devida, da hierarquia, da disciplina e da delegação, somente são cabíveis para o que for legal, ético, e moral.
Ao companheiro Wenceslau Goedert que ora assume a função de Diretor Superintendente desta Fundação, após um produtivo processo de transição, expresso os votos de sucesso e realizações. Somente tenho um palpite: terás muito êxito. Conheço as suas qualidades pessoais e profissionais e não tenho dúvida do vitorioso trabalho que realizará junto com os Diretores Dante Scolari, e Rafael Jabuonski; os Conselhos Deliberativo e Fiscal; os Patrocinadores, e a laboriosa equipe da Ceres. Está sob a sua coordenação, a realização dos sonhos de trabalhadores que como eu, por mais de trinta e dois anos tem acreditado na Ceres como a atriz principal na encenação dessa desejada peça: a aposentadoria. De minha parte, estou à sua disposição, pois o faço também em causa própria, visto ser participante dos dois planos de benefícios oferecidos pelo meu patrocinador. Jamais terás de mim a não ser a colaboração sincera e honesta. Participamos de uma transição civilizada e profissional. O fiz por dever de ofício, por convicção e freios éticos e morais. Não vejo como poderia ser diferente, tratando-se de uma organização onde o imperativo é o longo prazo e a perenidade.
Finalmente, sinto-me orgulhoso de ter andado no sentido contrário de quem se apropriou ou se apropria de bens e valores públicos ou de terceiros para fins pessoais e privados; e da defesa cega das contradições sociais de uma sociedade historicamente desigual, autoritária, e violenta. Deixo ainda, para registro um resumido quadro com os “Dados de Gestão da Ceres: Setembro de 2003 a Setembro de 2011”, e o poema intitulado “Mãos limpas que te quero limpas”, uma simbologia do que se pode fazer e não fazer com as mãos. Como diz a poetisa russa Marina Tsvetaeva: “a poesia é a língua dos deuses. Os deuses não falam, os poetas falam por eles”. Agradeço as mulheres da minha vida, Rita de Cássia, minha esposa; e Larissa Cristina minha filha, pelo carinho, afeto e companheirismo nesta cúmplice convivência de mais de trinta anos. Peço ainda, ao Presidente desse ato, apensar à ata dessa solenidade estes modestos escritos. Encerro citando um dos gênios da raça humana, Charles Chaplin: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche, e a peça termine sem aplausos”. Vida longa à Ceres. Muito obrigado. Brasília, 02 de janeiro de 2012. Manoel Moacir Costa Macêdo.